Osteonecrose da Cabeça Femoral

   A necrose avascular/necrose asséptica/osteonecrose da cabeça femoral é uma doença que acomete a circulação da região do quadril, mais especificadamente da cabeça do fêmur, levando à sua destruição progressiva. 

        Os nutrientes chegam na cabeça do fêmur por algumas artérias chamadas circunflexas. Qualquer dano a essas artérias podem provocar um bloqueio da circulação de sangue e levar à morte das células do osso da cabeça do fêmur.

Irrigação da cabeça do femur pelas artérias circunflexas

 

         É mais comum entre a terceira e a quinta década de vida, acomente 3x mais homens que mulheres e pode ser bilateral (ambos os quadris) em até 75% dos casos. 

       A sua causa é multifatorial, ou seja, são inúmeros fatores que podem estar combinados ou não para causar o bloqueio do suprimento sanguíneo. Entre algumas das principais causas, estão:

– Uso de corticoesteróides

– Consumo crônico de álcool

– Tabagismo

– Hipertensão arterial

– Colesterol Elevado

– Trombose

– Trauma

– Idiopática (sem causa definida)

– Etc

Sintomas:

   A dor geralmente inicia de forma mais silenciosa e vai progredindo com o tempo, principalmente se tiver mais impacto no local. Localizada no quadril, geralmente na região anterior (inguinal) porém pode se manifestar em formato de “C”e algumas vezes dor glútea com frequente confusão com dor lombar.

   Escrevi o artigo dor quadril x lombar justamente por essa confusão frequente.

   Com o passar do tempo a dor vai se intensificando, os movimentos do quadril ficam mais limitados, em especial a rotação. 

Evolução

     A evolução natural da osteonecrose é para o achatamento da cabeça do fêmur e consequentemente o desgaste mais precoce da articulação do quadril.

     O tempo conforme isso ocorre vai depender muito do tamanho da lesão, do local aonde foi instalado a necrose, a idade do paciente e a causa da doença. 

     A progressão é classificada em estágios. Quanto maior o tamanho da necrose, quanto mais lateral for o acometimento e em doenças em que não é possível retirar o fator de causa, a progressão é muito mais rápida.

Exames de Imagem:

 
Radiografia: É o exame inicial para avaliação da estrutura óssea. Pode mostrar a necrose, o colapso e também se já tem artrose associada. Porém no início da doença apresenta-se sem alterações.
Osteonecrose bilateral, com achatamento do lado direito do paciente e lado esquerdo íntegro

Cintilografia: Útil para detectar lesões desde o início mas não estipula prognóstico

Ressonância Magnética: 

  É o melhor exame para o diagnóstico. Avalia precocemente a lesão (antes de aparecer no Rx). E consegue estimar um prognóstico da lesão.

Tratamento da necrose avascular

     Existem inúmeros tratamentos para a Osteonecrose da cabeça femoral. O uso de muletas e alguns medicamentos podem ser usados, porém, a sua progressão para colapso é grande.

     Entre os tipos de tratamento cirúrgico, os de melhor resultado são dois: Descompressão associada ou não a enxerto de medula óssea e Artroplastia Total do Quadril.

     Geralmente o que vai definir entre um e outro é o colapso ou não da cabeça femoral –  Momento em que a cartilagem perde a sustentação no osso necrótico e ocorre uma perda da esfericidade da cabeça do fêmur.

Medidas Não-cirúrgicas:

      O uso de muletas ou andador para retirar a carga sobre o osso necrótico é uma boa estratégia até a avaliação médica para retirar a dor e evitar o colapso.

    Algumas medicações como cálcio, vitamina D e bifosfonados podem auxiliar no processo de nova formação óssea. Porém é incerto se previnem o colapso da cartilagem.

     A retirada do fator causal é essencial para evitar a progressão e auxiliar no tratamento. Quando é possível ser retirado, como por exemplo: uso de corticoide, alcoolismo, tabagismo – isso ajuda muito no tratamento e melhora o prognóstico da doença, podendo melhorar uma sobrevida do quadril de 20% para 59%.

Cirurgia de Descompressão

      Um dos métodos cirúrgicos mais utilizados, é indicado quando não há colapso da cartilagem. 

   É realizado uma ou várias perfurações através do osso para descomprimir o centro da necrose na cabeça femoral. Pode-se associar uso de células da medula óssea para melhorar os resultados.

      É um método para tentar a preservação da estrutura óssea. Porém apresenta uma taxa de falha que pode chegar até a 40%, evoluindo para artrose. Em estudo recente, publicado no JAAOS, o uso de células da medula óssea diminuem a taxa de falha para 22%.

Artroplastia (Prótese) Total do Quadril

      Utilizada em casos em que há o colapso da cartilagem ou já existe artrose (desgaste) associado. 

      É o procedimento com melhor resultado, porém, como geralmente é indicado em pacientes jovens, a escolha de um bom implante é essencial para ter a maior durabilidade possível.

        No artigo artroplastia total do quadril (clique aqui para saber mais) comento sobre diferentes tipos de prótese.

O mesmo paciente das imagens acima, foi realizado artroplastia total do quadril no lado direito e descompressão do lado esquerdo do paciente.

Artroplastia (Prótese) Total do Quadril

     A Prótese Total do Quadril é uma cirurgia realizada há bastante tempo, porém foi na década de 60 que foi popularizada e começou a ganhar os moldes de como é feita até hoje pelo inglês Sir John Charnley.

  Sua maior indicação é pela artrose (desgaste) da articulação do quadril, porém também pode ser realizada em casos de fratura, artrites inflamatórias como artrite reumatóide, osteonecrose da cabeça femoral, tumores, etc.

   Os principais benefícios são: Retorno da qualidade de vida, alívio da dor, retorno dos movimentos do quadril.

      Pelo excelente retorno à qualidade de vida do paciente, esta cirurgia já foi considerada como a “cirurgia do século” pela revista Lancet.

Radiografia Pós Operatória Prótese Total Quadril Direito

   Na Prótese Total do Quadril, ocorre a substituição da cabeça do fêmur quanto do acetábulo (parte da bacia). Em alguns casos, pode ser realizado somente a substituição da parte femoral, chamado Artroplastia (Prótese) Parcial do Quadril – utilizada principalmente em casos de fratura do colo do fêmur em idosos e também em tumores. Esse procedimento parcial porém tem uma durabilidade menor pelo desgaste da prótese contra a cartilagem.

Tipos de Prótese Total do Quadril

Cimentada:

    Há uma interface de cimento ósseo entre a prótese e o osso do paciente, para a fixação do implante.

 Não cimentada:

     A prótese entra sob pressão no osso do paciente chamado Press-Fit. Geralmente com poros para crescimento ósseo sob a prótese

Híbrida:

   Utilizado ambas as técnicas. Mais comumente cimentada no fêmur e não cimentada no acetábulo.

Resurfacing:

    É um tipo específico de prótese em que é um tipo de prótese híbrida (não cimentado no acetábulo e cimentado no fêmur) em que é inserido uma prótese de “recapeamento”na cabeça femoral de metal.

Tribologia (tipos de superfícies):

      Há alguns tipos de superfície de atrito que está a disposição do médico e do paciente escolherem. Tudo vai depender do grau de atividade, idade fisiológica e riscos de benefícios de cada uma das superfícies.

Metal x Metal

  É a superfície utilizada no resurfacing. 

     Apresenta pequeno desgaste porém pode levar a aumento de íons metálicos no sangue. Além de não haver estudos com seguimentos a longuíssimo prazo (>20 anos).

Metal x Polietileno

  Utiliza a cabeça femoral de metal e o inserte no acetábulo de polietileno. Recentemente com o uso de polietileno cross-linked, se viu uma maior durabilidade desse tipo de superfície.

Cerâmica x Polietileno

  Utiliza a cabeça femoral de cerâmica e o inserte no acetábulo de polietileno.    

 Apresenta menos desgaste do que a cabeça de metal, porém, em testes de laboratório, ainda com durabilidade inferior da cerâmica x cerâmica 

Cerâmica x Cerâmica

  Utiliza a cabeça femoral de cerâmica e o inserte no acetábulo de cerâmica.    

    Em estudos de laboratório, é o que apresenta menor índice de desgaste entre todas as superfícies. Porém tem algumas complicações  como squeaking e fratura da cerâmica.

Qual o melhor tipo de Prótese?

        Houve uma evolução muito grande na artroplastia total do quadril desde a sua popularização. Ambos os implantes cimentados ou não cimentados apresentam bons índices de sobrevida. A escolha do implante deve ser individual para cada paciente, levando em conta o seu grau de atividade física, expectativas, possíveis complicações, etc. 

    Boas cirurgias dependem de um planejamento adequado, orientação ao paciente, técnica cirúrgica e material adequado.