Chama-se de Impacto Fêmoroacetabular (IFA), o contato anormal do osso do fêmur com o osso da bacia na articulação do quadril, mais especificamente das regiões em volta da cabeça do fêmur com o acetábulo.
Esse contato é ocasionado por uma alteração do formato desses ossos, podendo levar a danos à cartilagem do quadril e do lábio (labrum) acetabular, assim como aumento do risco de artrose (desgaste) do quadril. Quando essa deformidade está presente na cabeça do fêmur se chama CAME e quando no acetábulo, chama-se de PINCER.
O impacto femoroacetabular tipo CAM ou CAME é a formação de uma espécie de “calo”ou “corcova” perto da cabeça do fêmur, ocasionando um choque dessa corcova durante os movimentos, principalmente ao se sentar ou agachar. Também chamado por alguns exames de imagem como “Bossa óssea” na cabeça femoral, essa lesão é mais comum em homens, jovens e atletas. Segue o vídeo abaixo da demonstração do impacto:
O Impacto tipo PINCER é uma sobrecobertura do acetábulo, que também irá fazer com que o osso do fêmur se choque contra o osso da bacia em alguns movimentos. Essa lesão é mais comum entre as mulheres, especialista entre 30 a 50 anos.
Existe o PINCER focal, também chamado de “retroversão focal acetabular“, e o PINCER global, ou seja, envolvendo todo o acetábulo. Este pode ser também chamado de “coxa profunda” por alguns exames de imagem, conforme o vídeo abaixo:
O impacto tipo misto é o mais comum, sendo que por definição é a presença de ambos, tipo CAME e tipo PINCER.
Causas de Impacto Femoroacetabular
Algumas causas são facilmente identificáveis, como alterações ósseas instauradas na infância, por exemplo Legg-Calvé-Perthes, Epifisiolise, Coxa Vara, etc.
Porém, mais comumente, acredita-se que durante o final do crescimento ósseo na adolescência há uma alteração na placa de crescimento do osso durante o seu desenvolvimento, ocasionando essas proeminências ósseas.
Há alguns estudos, que demonstram a relação de maior incidência dessas deformidades em pessoas que praticavam muito esporte na adolescência, provavelmente por uma maior sobrecarga na placa de crescimento.
Sintomas de Impacto Femoroacetabular
A dor ocasionada pelo impacto femoroacetabular é geralmente na região da virilha ou inguinal (raiz da coxa). Alguns pacientes ainda referem uma dor ao redor de todo o quadril, comumente chamada de sinal do C (em que ao realizar um “C” com o formato da mão, envolvem todo o quadril) – essas dores são as chamadas “típicas”.
Ainda existe a dor “atípica” que pode ser uma dor glútea, principalmente em casos de impacto do tipo Pincer, em que há um contra-golpe anterior ocasionando dano na cartilagem posterior.
Deve-se ter em mente que o “calo”de osso em si si geralmente não é o responsável pela dor, mas sim as alterações de cartilagem secundárias.
Geralmente a dor se inicia de forma vaga, ocasional, e ocorre a piora gradual conforme o tempo e a atividade física. É bastante comum a dor ao ficar muito tempo sentado, dirigir, entrar e sair do carro. Outra queixa comum é a limitação do movimento, especialmente ao girar o quadril para fora.
Deve ser diferenciada de dor de outras origens que podem se confundir como:
-Pubalgia
-Hérnia inguinal
–Dor lombar – Clique aqui para saber a diferença entre dor no quadril e coluna
-Doenças ginecológicas
Como fazer o diagnóstico?
O Diagnóstico é pelo exame médico, juntando-se as queixas, o exame físico e as imagens.
Quando se junta as alterações de imagem com as alterações clínicas, podemos dizer que é a Síndrome do Impacto Femoroacetabular (SIFA).
Radiografias (“raio-x”) são exames simples, porém é o melhor método para o exame inicial de deformidades ósseas como o CAME ou PINCER desde que feitas de maneira e técnica adequadas. As “poses” mais utilizadas são: AP de Bacia centrado na sínfise púbica, Dunn 45, Dunn 90 e Falso Perfil de Lequesne.
Tomografia óssea computadorizada pode ser utilizado em alguns casos para melhor visualização da anatomia do osso
A Ressonância Magnética do quadril é o melhor exame para avaliação da cartilagem e labrum. Em alguns casos, pode ser utilizado o contraste venoso ou até o intra-articular para melhor visualização destas lesões, principalmente se muito diminuta. Outras estruturas bem visualizadas com essa técnica são tendões, ligamentos e músculos.
Pode ser realizado o tratamento sem cirurgia?
TRATAMENTO CONSERVADOR:
O tratamento não cirúrgico pode ser utilizado em vários pacientes. A individualização é a máxima do tratamento.
Pacientes jovens, sem alterações de cartilagem e com lesões ósseas pequenas, podem se beneficiar do tratamento conservador: Fortalecimento muscular com uma fisioterapia de boa qualidade, modificação do posicionamento da pelve para evitar o impacto e evitar os movimentos que possam ocasionar danos aos quadris.
Este tratamento pode ser realizado por 3 a 12 semanas, e se evoluir bem, o retorno as atividades físicas é gradual e somente necessário um acompanhamento ocasional para avaliar se não houve progressão da lesão de cartilagem.
Um grande trabalho recente, confirma que tanto o tratamento conservador quanto o cirúrgico tem bons resultados, porém o cirúrgico apresenta melhores resultados do que o outro. Abaixo, neste vídeo, Dr David Gusmão (Porto Alegre-RS) e eu discutimos sobre esse artigo:
TRATAMENTO CIRÚRGICO:
O tratamento com cirurgia, visa a correção das deformidades ósseas e a sutura no labrum, quando indicado, para melhora da dor e retorno às atividades físicas..
O procedimento por videoartroscopia (clique aqui para saber mais), consiste na realização de pequenas incisões (1 a 2cm) na parte lateral do quadril, com inserção de instrumentos como câmera e brocas para remodelar o quadril e costurar (suturar) o labrum quando rompido, para melhorar a anatomia e evitar o choque de um osso contra o outro.
Quando há grandes lesões de cartilagem, o resultado da videoartroscopia pode ficar comprometido, ocasionando dor residual.
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