As lesões da musculatura isquiotibial envolvem várias patologias da região posterior da coxa. 

    Os músculos isquiotibiais, são em 3: Bíceps Femoral, Semitendíneo e Semimembranoso. Eles têm esse nome porque se originam do ísquio que fica situado na bacia (aquele osso que você senta em cima dele no glúteo) e se inserem no osso da canela que é a tíbia.

     Abaixo uma figura da região posterior da coxa, em que em vermelho está a parte da musculatura em si e em branco os tendões (que ligam a musculatura ao osso).

       As lesões mais comuns dessa musculatura é o estiramento ou distensão, em que uma parte das fibras é alongada, mas podem variar de uma ruptura das fibras parcialmente, totalmente ou ate uma avulsão do ísquio.

       A região mais comumente lesionada é a junção entre o tendão e o músculo, em que quanto mais proximal e maior o tamanho da lesão, maior é o tempo de retorno ao esporte. 

      Quando a lesão é classificada como um estiramento (a fibra estica mas não rompe) ou há uma lesão somente da musculatura, essas podem ser tratadas de maneira conservadora, com o protocolo PRICE:

– Proteção (uso de muletas)

– Repouso

– Ice (Compressas frias, 4 a 5x ao dia, 15 minutos cada)

– Compressão (enfaixamentos, a depender do local)

-Elevação (manter o membro elevado para auxiliar no retorno venoso)

    A Avulsão do tendão da sua inserção proximal, ou seja, o arrancamento do tendão do osso é uma área de mais difícil cicatrização, e por isso, pode ser considerado um tratamento cirúrgico a depender do tipo da lesão e do grau de atividade física do paciente. Este tipo de lesão, felizmente, só está presente em 12% dos casos.

Qual o mecanismo da lesão?

       Sobre a musculatura dos isquiotibiais, passa uma grande quantidade de carga, já que essa ultrapassa duas grandes articulações: quadril e joelho. 

      O principal movimento de lesão é a de flexão do quadril com o joelho estendido (esticado) – sendo chamada de lesão do esqui aquático, pois é nesta posição que o esquiador se encontra quando o barco puxa, ocasionando a ruptura.

     Porém, é comum esse tipo de lesão em outros esportes, como futebol, dança, academia, rugby, surfe e até em algumas quedas com o joelho esticado.

Sinais e Sintomas

    Geralmente é bem perceptível o momento da lesão, com um estalido ou uma dor na região posterior da coxa durante o exercício ou trauma. Após isso é comum uma dificuldade para andar, apoiar o membro acometido e a dificuldade e incomodo ao sentar sobre o lado acometido é bem característico da avulsão dos isquiotibiais.

    Após 48 a 72 horas, instala-se um hematoma (roxo) na região posterior da coxa, que geralmente perdura por 3 a 4 semanas.

     Pode, as vezes, haver um incômodo prévio ao trauma no local, ocasionado por uma tendinose que é um fator de risco para a ruptura. 

     Conforme a lesão progride, podem ter como sintomas: fraqueza na perna acometida, dor crônica ao se sentar e formigamento da perna devido a cicatrização sobre o nervo ciático.

Exames de Imagem

      Radiografias (Raio-x) são importantes para definir se há envolvimento ósseo, porém, geralmente não mostram a lesão.

     A Ultrassonografia pode ser utilizada para a visualização da lesão, geralmente mais utilizada para estiramentos de posterior da coxa e rupturas musculares. Para avulsões, o exame pode ter dificuldades de detectar pela profundidade da lesão e o hematoma adjacente.

     A ressonância magnética é o padrão ouro para a avaliação das avulsões, identificando com maior precisão a extensão da lesão, o acometimento dos 3 tendões: Semitendinoso, semimembranoso e bíceps femoral e se há retração dos mesmos.         

Setas verdes indicando os tendões retraídos
A área branca indica o grande hematoma local formado

Tratamento Conservador

      Para lesões como estiramento e rupturas somente da região muscular, não há dúvidas da indicação do tratamento conservador, com ótimos resultados.

        Para avulsões, este tratamento é indicado para:  avulsões de 1 único tendão; rupturas com menos de 2cm de encurtamento; pacientes com baixa demanda de atividade física ou com doenças debilitantes.

      Historicamente, geralmente era indicado também o tratamento não cirúrgico para avulsões dos isquiotibiais, porém, devido a algumas sequelas como: perda de força do membro, dificuldades para andar, incômodo para se sentar e alterações do nervo ciático, têm-se indicado a reinserção conforme a lesão e o grau de atividade física do paciente.

       O tratamento não cirúrgico consiste em:

– Controle da dor: mais intenso nos primeiros dias

– Uso de antiinflamatorios nas primeiras 48-72 horas

– Gelo local: 15 minutos cada aplicação, 4 a 5x ao dia

– Manter membro elevado quando em repouso

– Uso de muletas e apoio conforme tolerância

– Evitar imobilizar o quadril para não haver atrofia da musculatura         

Tratamento Cirúrgico

   O tratamento cirúrgico, consiste em: permitir que o paciente não tenha dor/incomodo para se sentar sobre o lado afetado, melhora da força, retorno ao esporte e melhora dos sintomas de compressão de nervo associado.

         A cirurgia está melhor indicada para pacientes com avulsão dos 3 tendões e com algum grau de atividade esportiva. Porém, também pode ser indicada para rupturas parciais e tendinopatia dos isquiotibiais caso falhe o tratamento conservador.

          Idealmente, essas cirurgias devem ser operadas entre 3 a 4 semanas após a lesão inicial. Antes disso o inchaço local pode prejudicar o reparo, e após isso (geralmente após 8 semanas), o tendão pode formar cicatrizes no nervo ciático aumentando a chance de alguma lesão nervosa (levando a síndrome do pé caído).

       O procedimento envolve um acesso na região posterior da coxa, próximo à nádega, elevação do músculo glúteo máximo e reinserção dos tendões novamente no ísquio com auxílio de âncoras ósseas, representadas pelas imagens metálicas na radiografia abaixo:

**imagens de transoperatório deixei para o final da página                  

          Os cuidados no pós operatórios iniciais envolvem cuidado com a ferida – cuidados com hematoma que podem se formar e comprimir o nervo ciático.

     A depender do grau de tensão da musculatura reinserida, pode ser necessário o uso de alguma órtese para evitar esticar o joelho e dobrar o quadril concomitantemente. Pode ser usado tanto um brace articulado de joelho quanto uma cinta que amarra um elástico no pé.

         Inicialmente o apoio é restrito. Após 2 semanas inicia-se com carga parcial na maioria dos casos, liberando a carga totalmente em 6 semanas. Exercícios físicos podem ser reiniciados em torno de 3 a 6 meses, a depender do tipo de atividade.





Atenção, deixei imagens do transoperatório para o final, se tiver sensibilidade a imagens com sangue, favor não olhar:

Aparência dos tendões rompidos
Proximidade do nervo ciático
Após a reinserção

Atenção: As informações contidas no site expressam a opinião do autor. As opiniões não tem vínculo com nenhuma instituição. As informações aqui contidas não substituem a avaliação médica. Consulte um médico sobre problemas pessoais específicos.

12 comments on “Avulsão de Isquiotibiais

  • Alex de Almeida

    Boa noite !!
    passei por 04 ortopedistas e os mesmos alegam que não necessito de cirurgia de acordo com o laudo da ressonância . Sendo que já passou 06 meses fiz tratamento com medicamentos , gelo , fisio e agora estou na academia fazendo reforço muscular , mas , ainda sinto algumas dores no local .
    Ruptura completa das fibras insercionais do tendão semitendíneo que se
    encontra a 5,2 cm da inserção, retraído e irregular, notando-se coleção líquida
    com sinal elevado nas sequências com supressão de gordura e intermediário em
    T1 por componente hemático ao longo de sua topografia e em torno do coto
    tendíneo. Notamos ainda extenso edema do tecido celular subcutâneo na face
    medial da porção proximal da panturrilha.
    Grupos musculares e demais tendões sem alterações.
    Arquitetura óssea anatômica.
    Cartilagens articulares com superfícies regulares.
    Meniscos medial e lateral com morfologia e intensidade de sinal normais.
    Ligamentos cruzados e colaterais íntegros.
    Ausência de derrame articular significante.
    Gordura de Hoffa preservada.

    • joao_rrg

      Oi Alex. Claro que falta um exame fisico apra eu poder te dizer com clareza, mas pela sua ressonancia e pelos sintomas residuais, possivelmente teria indicação ciúrgica. Mas não são todos os ortopedistas que fazem esse tipo de cirurgia.

      • Adriana

        O meu resultado deu rotura avulsão proximal dos tendões do semitendinoso e cabeça longa dos biceps femoral na tuberosidade isquiatica,com retração dos cotos tendineos de aproximadamente 12.0cm. Coexiste edema intersticial difuso.com redução volumétrica e discreta lipossubstuição gorduras dos ventre musculares.
        Será que preciso de cirurgia??

        • joao_rrg

          É uma possibilidade Adriana, mas tem outros fatores importantes: como você está, quanto de dor está sentindo, em quais movimentos, quais são as suas limitações e como esta de atividade física…

  • Lindsay Viola

    Olá, dr. João.
    Recebi o seguinte diagnóstico na RM de coxa após lesão:

    “Avulsão proximal do tendão do músculo semimembranáceo da origem na tuberosidade
    isquiática com espessamento e ondução do coto tendíneo que se apresenta retraído
    distalmente a cerca de 14 cm. Há preenchimento da lesão por líquido. Associa-se
    coleção líquida interaponeurótica com o semitendíneo, bíceps femoral, adutor magno e
    mínimo numa extensão longitudinal de 26 cm.
    Discreta peritendinite na inserção distal do tendão do glúteo mínimo e do feixe anterior do
    glúteo médio no trocânter maior do fêmur caracterizadas por leve edema em partes
    moles adjacentes.”

    No entanto, já fui em 3 ortopedistas, e a orientação foi a mesma: NÃO necessito fazer cirurgia, pois sou atleta não profissional, e a cirurgia só seria indicada para atletas profissionais.
    Estou em fisioterapia e não voltei às atividades físicas, mas andando normalmente já e dor só de vez em quando
    Mas estou com medo de ficar com algo irreversível e não poder retornar às atividades físicas (musculação, pilates e circo, que precisa de muita flexibilidade).
    por favor, me dá sua opinião?
    Obrigada!

    • joao_rrg

      Oi Lindsay. Tem os outros tendões que não foram avulsionados que podem fazer o trabalho do semimembranaceo.
      Então possivelmente o tratamento conservador te dê uma boa qualidade de vida após.
      Mas para confirmar isso, somente com uma consulta médica consigo te dizer…

  • Flávia Fonseca Bagno

    Oi Dr João,

    Caí arrumando casa, hoje completa 10 dias que me acidentei e ainda tenho fisgadas e sinto dor no glúteo máximo.

    Gostaria de saber sua opinião quanto a cirurgia.

    Esse foi o resultado da ressonância:
    Avulsão praticamente total junto à entese dos isquiotibiais na tuberosidade permanecendo aderido
    pequeno componente do semimembranoso. O gap é de cerca de 3,0 cm,notando-se presumível
    coleção sero-hemática no plano das fáscias destes músculos.
    IMPRESSÃO:
    – Lesão avulsiva dos isquiotibiais na tuberosidade isquiática.
    – Lesão muscular grau I do glúteo máximo,do adutor magno e obturador externo.
    Desde já agradeço.

    • joao_rrg

      É uma possibilidade a cirurgia Flavia. Vai depender de alguns fatores como grau de limitação, grau de musculatura e dor residual

  • Adriana

    O meu resultado deu rotura avulsão proximal dos tendões do semitendinoso e cabeça longa dos biceps femoral na tuberosidade isquiatica,com retração dos cotos tendineos de aproximadamente 12.0cm. Coexiste edema intersticial difuso.com redução volumétrica e discreta lipossubstuição gorduras dos ventre musculares

  • Bruna

    Olá, gostaria de saber se com este resultado de RNM é necessária cirurgia:
    Conclusão:
    Rotura com desinserção completa dos tendões isquiotibiais, com retração distal dos cotos tendíneos do semimembranoso e do tendão conjunto do bíceps femoral/semitendíneo, além de edema e alterações inflamatórias junto da área de rotura.

  • Bruna

    Complementando o comentário anterior:
    Análise:
    Rotura com desinserção completa dos tendões isquiotibiais, que apresentam retração distal em cerca de 16 cm em relação a tuberosidade isquiática, com irregularidade e tendinopatia dos cotos tendíneos retraídos distalmente. Destaca-se que a área de rotura está preenchida por material líquido/hemático, com espessura de até 2,9 cm, porém sem evidências de coleção bem definida. Há edema dos ventres musculares do semimembranoso, semitendíneo e bíceps femoral distalmente à desinserção tendínea descrita, indicando alteração pós-estiramento, ou mesmo, de aspecto inflamatório reacional. Tendão do semimembranoso e tendão conjunto do bíceps femoral/semitendíneo.

    Pode opiniar se é caso cirúrgico?
    Obrigada!

    • joao_rrg

      Pelo laudo da ressonância teria indicação de cirurgia Bruna.
      Porém uma indicação verdadeira de cirurgia tem que ter uma avaliação de você, da sua dor, das suas limitações e o seu nível de atividade física.

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