Lesão do Labrum (lábio) Acetabular

   O labrum (lábio) acetabular é uma estrutura do quadril feita de fibrocartilagem localizada ao redor do acetábulo (parte da bacia).

     É uma estrutura importante na mecânica do quadril, entre as suas funções mais importantes destaca-se:

     – Age como um selo de sucção no quadril, mantendo o líquido sinovial na articulação.

   – Aprofunda o acetábulo, mantendo uma área de contato maior do mesmo.

      –  Promove suporte de carga através do quadril.

Imagem demonstrando o labrum ˜abraçando˜ a cabeça do femur

As lesões do labrum podem ser provocadas por algumas patologias, entre elas:

   – Impacto Femoroacetabular(clique aqui para saber mais– ocasionando dano mecânico no mesmo

      – Displasia do quadril

     – Hipermobilidade, com movimentos bruscos e além da capacidade do quadril

     – Hiperfrouxidão ligamentar, pelos ligamentos mais frouxos sobrecarregando o labrum

     – Artrose do quadril (clique aqui para saber mais) – que geralmente ocasiona um desgaste degenerativo do labrum

Quais os sintomas da lesão labral?

      Os sintomas dessa lesão são caracterizados por dor na raiz da coxa (inguinal), dor na virilha ou sinal do “C”. Ocasionalmente pode ocorrer dores atípicas na região glútea e irradiado para a região interna da coxa, porém menos comum.

Dor na raiz da coxa (inguinal)
Sinal do "C"

   Lembrando que nem todas as lesões labrais são sintomáticas. Há estudos demonstrando que podem haver até 50% de lesões labrais em pacientes sem sintomas nenhum no quadril (principalmente se forem lesões degnerativas). A melhor maneira para saber se esta lesão ocasiona dor ou não é pelo exame clínico no consultório.

Quais os tipos de tratamentos?

     O tratamento da lesão labral varia bastante conforme a causa e o tempo de lesão. Lesões recentes, de até 3 meses, podem cicatrizar desde que seja retirado o fator causal, como movimentos extremos do quadril de rotação e flexão e fortalecimento da musculatura ao redor.

        Alguns medicamentos antiinflamatórios podem ser usados por curto espaço de tempo. Suplementos para a cartilagem podem ter algum auxilio para determinados pacientes.

       Lesões associadas ao impacto femoroacetabular algumas vezes necessitam de tratamento cirúrgico com correção das deformidades tipo CAM ou PINCER  e sutura labral.

         Algumas vezes o labrum se encontra com um alto grau de lesão que não permitem a sutura, sendo necessário o uso de enxerto para a sua reconstrução.

        Lesões do tipo degenerativas geralmente visam o tratamento da artrose, não havendo melhora somente no tratamento do labrum.

Correção da lesão labral com sutura

     Se necessário o seu tratamento cirúgico, este pode ser feito por videoartroscopia do quadril (clique aqui para saber mais), procedimento minimamente invasivo, em que é realizado a “costura”da lesão com auxilio de âncoras (dispositivos que se fixam no osso para possibilitar a lesão cicatrizar novamente no seu devido lugar.

Videoartroscopia do Quadril

  A videoartroscopia do quadril é um procedimento minimamente invasivo, realizado por pequenos orifícios na lateral do quadril para o acesso dentro da articulação e tratamento de doenças com uso de uma câmera em miniatura e pequenos instrumentos.

      Pode ser realizada para várias patologias do quadril, entre elas:

Impacto Femoroacetabular (clique aqui para saber mais)

Lesão Labral (clique aqui para saber mais)

– Corpos livres intra articulares

– Drenagem de artrite séptica

– Tratamento de sinovite do quadril

Procedimento:

          É realizado em centro cirúrgico, sob anestesia e com uma mesa específica que permite a tração (abertura) da articulação do quadril para o tratamento da causa.

Representação de uma câmera inspecionando o quadril

     Quanto ao impacto femoroacetabular, que é uma patologia causada por um “calo” de osso na cabeça do fêmur ou na bacia que ocasiona dores no quadril ao esforço físico e danos na cartilagem, é realizado a retirada dessa calosidade por meio de pequenas brocas e auxilio de uma câmera para devolver o formato normal do osso.

Cam = Calo de osso no fêmur
Realizando a retirada do CAME com uso de brocas

    Outra indicação da videoartroscopia do quadril é para lesões do labrum acetabular. O labrum é uma cartilagem de revestimento do acetábulo, que tem função de vedar o quadril e também aumentar a profundidade do mesmo. O seu reparo pode ser feito por artroscopia com pequenas suturas (costuras) com uso de âncoras no osso.

Lesão Labral
Sutura do labrum com âncoras

    A recuperação é bem mais rápida do que a via aberta, porém dependendo da força muscular do paciente previamente à cirurgia.

     Pessoas com força muscular maior –> recuperação mais rápida.

      Geralmente é necessário o uso de muletas por 10 a 14 dias (na média), iniciando fisioterapia no dia seguinte, retornando a academia em um tempo médio de 6 semanas e retorno às corridas em um tempo médio de 5-6 meses.

Artroplastia (Prótese) Total do Quadril

     A Prótese Total do Quadril é uma cirurgia realizada há bastante tempo, porém foi na década de 60 que foi popularizada e começou a ganhar os moldes de como é feita até hoje pelo inglês Sir John Charnley.

  Sua maior indicação é pela artrose (desgaste) da articulação do quadril, porém também pode ser realizada em casos de fratura, artrites inflamatórias como artrite reumatóide, osteonecrose da cabeça femoral, tumores, etc.

   Os principais benefícios são: Retorno da qualidade de vida, alívio da dor, retorno dos movimentos do quadril.

      Pelo excelente retorno à qualidade de vida do paciente, esta cirurgia já foi considerada como a “cirurgia do século” pela revista Lancet.

Radiografia Pós Operatória Prótese Total Quadril Direito

   Na Prótese Total do Quadril, ocorre a substituição da cabeça do fêmur quanto do acetábulo (parte da bacia). Em alguns casos, pode ser realizado somente a substituição da parte femoral, chamado Artroplastia (Prótese) Parcial do Quadril – utilizada principalmente em casos de fratura do colo do fêmur em idosos e também em tumores. Esse procedimento parcial porém tem uma durabilidade menor pelo desgaste da prótese contra a cartilagem.

Tipos de Prótese Total do Quadril

Cimentada:

    Há uma interface de cimento ósseo entre a prótese e o osso do paciente, para a fixação do implante.

 Não cimentada:

     A prótese entra sob pressão no osso do paciente chamado Press-Fit. Geralmente com poros para crescimento ósseo sob a prótese

Híbrida:

   Utilizado ambas as técnicas. Mais comumente cimentada no fêmur e não cimentada no acetábulo.

Resurfacing:

    É um tipo específico de prótese em que é um tipo de prótese híbrida (não cimentado no acetábulo e cimentado no fêmur) em que é inserido uma prótese de “recapeamento”na cabeça femoral de metal.

Tribologia (tipos de superfícies):

      Há alguns tipos de superfície de atrito que está a disposição do médico e do paciente escolherem. Tudo vai depender do grau de atividade, idade fisiológica e riscos de benefícios de cada uma das superfícies.

Metal x Metal

  É a superfície utilizada no resurfacing. 

     Apresenta pequeno desgaste porém pode levar a aumento de íons metálicos no sangue. Além de não haver estudos com seguimentos a longuíssimo prazo (>20 anos).

Metal x Polietileno

  Utiliza a cabeça femoral de metal e o inserte no acetábulo de polietileno. Recentemente com o uso de polietileno cross-linked, se viu uma maior durabilidade desse tipo de superfície.

Cerâmica x Polietileno

  Utiliza a cabeça femoral de cerâmica e o inserte no acetábulo de polietileno.    

 Apresenta menos desgaste do que a cabeça de metal, porém, em testes de laboratório, ainda com durabilidade inferior da cerâmica x cerâmica 

Cerâmica x Cerâmica

  Utiliza a cabeça femoral de cerâmica e o inserte no acetábulo de cerâmica.    

    Em estudos de laboratório, é o que apresenta menor índice de desgaste entre todas as superfícies. Porém tem algumas complicações  como squeaking e fratura da cerâmica.

Qual o melhor tipo de Prótese?

        Houve uma evolução muito grande na artroplastia total do quadril desde a sua popularização. Ambos os implantes cimentados ou não cimentados apresentam bons índices de sobrevida. A escolha do implante deve ser individual para cada paciente, levando em conta o seu grau de atividade física, expectativas, possíveis complicações, etc. 

    Boas cirurgias dependem de um planejamento adequado, orientação ao paciente, técnica cirúrgica e material adequado.   

Dor Quadril x Coluna

  Em algumas situações, é difícil a diferenciação entre dores do quadril ou da coluna, tanto para o paciente quanto para o próprio ortopedista especialista em coluna ou quadril.

        A dor de dentro da articulação do quadril, tipicamente é referida como uma dor inguinal (na região da frente, entre a coxa e o abdômen), na virilha, ou sinal do “C”, em que o paciente pega a sua mão, faz um formato de “C”e envolve o quadril.

    Ainda existem as dores “atípicas”do quadril, que podem ser lateral ou posterior (glútea), sendo necessário a sua definição se pertence ao quadril ou não pelos testes durante o exame clínico.

Dor inguinal
Sinal do ˜C˜

    As dores da lateral do quadril, que envolvem tendinite do glúteo médio e mínimo assim como bursite trocantérica, geralmente são ocasionadas por esforço como levantar e se sentar, andar, subir e descer escadas e dor ao se deitar sobre esse lado. Frequentemente podem se estender pela lateral da coxa até o joelho. Porém pode se misturar e se confundir com a região do nervo de L5.

    As compressões de nervos da coluna, geralmente se estendem conforme os “dermátomos”, que são faixas delimitadas pelo membro que indica a sensibilidade de cada nervo da coluna. As faixas que geralmente costumam se confundir com quadril é a irradiação do nervo de L5 pela lateral do quadril e S1 na posterior do quadril, conforme imagem abaixo:

   Na região posterior do quadril, existem múltiplas patologias que podem ocasionar dor. 

  A síndrome do piriforme é uma compressão do nervo ciático a nível do músculo piriforme e essa pode ocasionar uma dor irradiada para as raízes de L5, S1 e S2.

   Ainda na região posterior, uma patologia que pode existir em cojunto com a dor lombar é o Impacto Isquiofemoral.

  Diferente do impacto femoroacetabular, o Isquiofemoral é causado por um espaço diminuído entre o trocânter menor (Fêmur) e o ísquio (Bacia), podendo ocasionar uma sobrecarga na coluna lombar. 

     Este tipo de impacto costuma causar dor na região posterior (glútea) durante caminhadas e atividades físicas. Assim como sobrecarga na região lombar podendo ocasionar dor lombar.

  Outro tipo de impacto no quadril que ocasiona dor lombar é o impacto femoroacetabular, em que, conforme o vídeo abaixo demonstra, a força exercida sobre a articulação do quadril pode se transmitir para a região do púbis, assim como sacroilíaca ou coluna lombar.

    Em mais um vídeo abaixo, Dr Gusmão (Porto Alegre) e eu discutimos sobre algumas causas de dor glútea dos pacientes:

Impacto Femoroacetabular (CAM e PINCER)

       Chama-se de Impacto Fêmoroacetabular (IFA), o contato anormal do osso do fêmur com o osso da bacia na articulação do quadril, mais especificamente das regiões em volta da cabeça do fêmur com o acetábulo.

   Esse contato é ocasionado por uma alteração do formato desses ossos, podendo levar a danos à cartilagem do quadril e do lábio (labrum) acetabular, assim como aumento do risco de artrose (desgaste) do quadril. Quando essa deformidade está presente na cabeça do fêmur se chama CAME e quando no acetábulo, chama-se de PINCER.          

Imagem mostrando quadril normal e os tipos de impacto: CAME, Pincer e Misto

       O impacto femoroacetabular tipo CAM ou CAME é a formação de uma espécie de “calo”ou “corcova” perto da cabeça do fêmur, ocasionando um choque dessa corcova durante os movimentos, principalmente ao se sentar ou agachar. Também chamado por alguns exames de imagem como “Bossa óssea” na cabeça femoral, essa lesão é mais comum em homens, jovens e atletas. Segue o vídeo abaixo da demonstração do impacto: 

           O Impacto tipo PINCER é uma sobrecobertura do acetábulo, que também irá fazer com que o osso do fêmur se choque contra o osso da bacia em alguns movimentos. Essa lesão é mais comum entre as mulheres, especialista entre 30 a 50 anos.

      Existe o PINCER focal, também chamado de “retroversão focal acetabular“, e o PINCER global, ou seja, envolvendo todo o acetábulo. Este pode ser também chamado de “coxa profunda” por alguns exames de imagem, conforme o vídeo abaixo:

          O impacto tipo misto é o mais comum, sendo que por definição é a presença de ambos, tipo CAME e tipo PINCER. 

Causas de Impacto Femoroacetabular

      Algumas causas são facilmente identificáveis, como alterações ósseas instauradas na infância, por exemplo Legg-Calvé-Perthes, Epifisiolise, Coxa Vara, etc.

      Porém, mais comumente, acredita-se que durante o final do crescimento ósseo na adolescência há uma alteração na placa de crescimento do osso durante o seu desenvolvimento, ocasionando essas proeminências ósseas.  

   Há alguns estudos, que demonstram a relação de maior incidência dessas deformidades em pessoas que praticavam muito esporte na adolescência, provavelmente por uma maior sobrecarga na placa de crescimento.

Sintomas de Impacto Femoroacetabular

        A dor ocasionada pelo impacto femoroacetabular é geralmente na região da virilha ou inguinal (raiz da coxa). Alguns pacientes ainda referem uma dor ao redor de todo o quadril, comumente chamada de sinal do C (em que ao realizar um “C” com o formato da mão, envolvem todo o quadril) – essas dores são as chamadas “típicas”.

      Ainda existe a dor “atípica” que pode ser uma dor glútea, principalmente em casos de impacto do tipo Pincer, em que há um contra-golpe anterior ocasionando dano na cartilagem posterior.

Dor inguinal
Sinal do "C"

      Deve-se ter em mente que o “calo”de osso em si si geralmente não é o responsável  pela dor, mas sim as alterações de cartilagem secundárias.    

     Geralmente a dor se inicia de forma vaga, ocasional, e ocorre a piora gradual conforme o tempo e a atividade física. É bastante comum a dor ao ficar muito tempo sentado, dirigir, entrar e sair do carro. Outra queixa comum é a limitação do movimento, especialmente ao girar o quadril para fora.

       Deve ser diferenciada de dor de outras origens que podem se confundir como:

-Pubalgia

-Hérnia inguinal

Dor lombar – Clique aqui para saber a diferença entre dor no quadril e coluna

-Doenças ginecológicas

Como fazer o diagnóstico?

      O Diagnóstico é pelo exame médico, juntando-se as queixas, o exame físico e as imagens. 

      Quando se junta as alterações de imagem com as alterações clínicas, podemos dizer que é a Síndrome do Impacto Femoroacetabular (SIFA).

     Radiografias (“raio-x”) são exames simples, porém é o melhor método para o exame inicial de deformidades ósseas como o CAME ou PINCER desde que feitas de maneira e técnica adequadas. As “poses” mais utilizadas são: AP de Bacia centrado na sínfise púbica, Dunn 45, Dunn 90 e Falso Perfil de Lequesne.

Pré Correção do CAME Esq
Pós Correção do CAME Esq
Pré Correção PINCER Bilateral
Pós Correção PINCER Bilateral

     Tomografia óssea computadorizada pode ser utilizado em alguns casos para melhor visualização da anatomia do osso

       A Ressonância Magnética do quadril é o melhor exame para avaliação da cartilagem e labrum. Em alguns casos, pode ser utilizado o contraste venoso ou até o intra-articular para melhor visualização destas lesões, principalmente se muito diminuta. Outras estruturas bem visualizadas com essa técnica são tendões, ligamentos e músculos.

À esquerda, um labrum íntegro (triângulo preto na flecha), e na direita, uma lesão labral demonstrando líquido (branco) se infiltrando no labrum na flecha

Pode ser realizado o tratamento sem cirurgia?

TRATAMENTO CONSERVADOR:

      O tratamento não cirúrgico pode ser utilizado em vários pacientes. A individualização é a máxima do tratamento. 

       Pacientes jovens, sem alterações de cartilagem e com lesões ósseas pequenas, podem se beneficiar do tratamento conservador: Fortalecimento muscular com uma fisioterapia de boa qualidade,  modificação do posicionamento da pelve para evitar o impacto e evitar os movimentos que possam ocasionar danos aos quadris.

        Este tratamento pode ser realizado por 3 a 12 semanas, e se evoluir bem, o retorno as atividades físicas é gradual e somente necessário um acompanhamento ocasional para avaliar se não houve progressão da lesão de cartilagem.

     Um grande trabalho recente, confirma que tanto o tratamento conservador quanto o cirúrgico tem bons resultados, porém o cirúrgico apresenta melhores resultados do que o outro. Abaixo, neste vídeo, Dr David Gusmão (Porto Alegre-RS) e eu discutimos sobre esse artigo:

TRATAMENTO CIRÚRGICO:

    O tratamento com cirurgia, visa a correção das deformidades ósseas e a sutura no labrum, quando indicado, para melhora da dor e retorno às atividades físicas..

  O procedimento por videoartroscopia (clique aqui para saber mais), consiste na realização de pequenas incisões (1 a 2cm) na parte lateral do quadril, com inserção de instrumentos como câmera e brocas para remodelar o quadril e costurar (suturar) o labrum quando rompido, para melhorar a anatomia e evitar o choque de um osso contra o outro.

      Quando há grandes lesões de cartilagem, o resultado da videoartroscopia pode ficar comprometido, ocasionando dor residual.

Atenção: As informações contidas no site expressam a opinião do autor. As opiniões não tem vínculo com nenhuma instituição. As informações aqui contidas não substituem a avaliação médica. Consulte um médico sobre problemas pessoais específicos.